Uber, Zaznu e a polêmica da carona paga

Já falamos sobre economia compartilhada aqui no site antes, de como ela ajuda a redistribuir a renda entre as pessoas, reduz o consumo, mas tamvbém como pode impactar negativamente as cidades caso alguns pontos não sejam observados. No quesito transportes, uma das infraestruturas mais difíceis de se lidar pelo alto valor de investimento necessário, tempo de implementação e complexidade de planejamento, iniciativas que ajudem a mover pessoas pelo tecido urbano são sempre bem-vindas.

Recentemente duas empresas de tecnologia viraram o centro das atenções no Brasil devido ao início de suas operações: A americana Uber e a brasileira Zaznu. Ambas oferecem através de aplicativos de celular serviços de “caronas pagas”, ainda que a Uber se distancie bastante do modelo, como veremos adiante.

A Zaznu

A carioca Zaznu aposta em um modelo mais social, em que os motoristas podem ser quaisquer propietários de  carros que já circulam rotineiramente pela cidade e podem disponibilizar os lugares sobrando para uma “carona” paga. Os valores são sugeridos pelo motorista através do aplicativo e o caronista pode “doar” mais se quiser. A ideia também passa pela proposta de conectar estranhos e estabelecer relações entre eles.

A Zaznu se inspirou no popular Lyft, start-up sediada em São Francisco, EUA. O modelo é idêntico e faz bastante sucesso por lá e pare que a Zaznu vem tendo a mesma adoção por parte dos clientes aqui no Brasil. Segundo a própria empresa, a economia com o aplicativo chega a 30% em comparação com táxis convencionais. Não há pagamento direto, tudo é feito através do aplicativo, eliminando a inconveniência de carregar dinheiro.

A Uber e o serviço executivo

A americana Uber também aterrisou na Terra Brasilis em 2014, primeiro no Rio e agora em São Paulo. O serviço é semelhante, carros chamados através do aplicativo, porém mais chique. Somente motoristas profissionais podem disponibilizar seus carros e não é ualquer modelo que entra. A frota “Black” é composta de modelos específicos considerados de luxo, e o próprio branding da empresa parece aponta a estratégia.

Na Uber a corrida também é paga via aplicativo, mas o preço é pré estabelecido através de uma tabela. A tarifa base é XX, e o preço pode ser por minuto (XX) ou por quilômetro rodado (XX) com tarifa mínima de XX. Os preços costumam ser um pouco mais caros que os dos táxis convencionais, mas ainda mais baixos que motoristas particulares executivos. Para quem precisa de um serviço diferenciado, é uma excelente pedida.

Segurança e controvérsias

Claro que serviços de transportes não poderiam ficar longe de polêmicas e ao redor do mundo as caronas pagas são recebidas com protestos pela indústria dominante – leia-se táxi. Os taxistas queixam-se principalmente da ilegalidade do serviço, que opera sem a licença que a categoria necessita para circular, cobrando através de tabelas estabelecidas pela prefeitura de cada cidade, um mercado hiperregulado.

Ambas as empresas se defendem afirmando não serem empresas de transportes per se, mas serviços de tecnologia que nada mais fazem do que uma ponte entre motoristas e passageiros. Apesar disso os motoristas precisam se cadastrar em ambos os casos para receberem corridas pelos serviços.

Um ponto de discussão a ser ressaltado é que uma lei federal de 2011 deixa claro que somente táxis podem fornecer serviços de transporte particular, monopolizando o serviço. A última licensa emitida pelas prefeituras de Rio e São Paulo saiu em 2011, ou seja, a concorrência no transporte particular é blindada pela regulamentação.  No mercado pode-se comprar licensas de quem já tem, mas é virtualmente impossível encontrar quem queira se desfazer delas e os preços são caríssimos.

Outra reclamação dos taxistas é da suposta falta de segurança dos novos concorrentes. Tanto a Uber quanto a Zaznu se defendem afirmando que os motoristas que oferecem serviços são rigorosamente checados. No caso da Uber os motoristas precisam ser profissionais credenciados, além de checagem de documentação do veículo e antecedentes criminais. A Zaznu, que permite a qualquer um se cadastrar também faz uma verificação completa de documentação e antecedentes crimianais. Em ambos os serviços, ao chamar um carro, sabe-se exatamente o nome do motorista que o atenderá, modelo do carro, placa e contatos. Em caso de problemas, o motorista é facilmente identificado.

Cabe aqui uma resslava, no entanto. Os aplicativos de táxi como EasyTaxi e 99 Táxis que tem apoio massivo de motoristas pelas vantagens oferecidas frente ao domínio das cooperativas, foram alvo da mesma queixa por falta de segurança e a defesa foi a mesma: profissionais cadastrados, porém os serviços de carona paga ainda oferecem a vantagem de fazer o atendimento ao consumidor caso algo saia errado, uma vez que no caso dos táxis tudo fica entre motorista e passageiro. Aparentemente às críticas à segurança só valem quando beneficiam o status quo. Dois pesos, duas medidas.

A controvérsia não ocorre só no Brasil. A Uber é alvo de protestos em dezenas de cidades, onde taxistas tentam a todo custo vetar a operação do serviço sob alegações semelhantes as dos motoristas brasileiros. A prima gringa do Zaznu, a Lyft, também é alvo de empresas de transporte até mesmo em sua cidade natal, São Francisco.

A discussão está longe de ter um fim, mas é importante frisar que tais serviços só crescem devido à demanda e insatisfação com a alternativa convencional. Para quem vive em grandes cidades a dificuldade de se conseguir um táxi em determinados horários, qualidade dos serviços e preço são alvo de críticas contínuas, tornando-se parte da cultura da cidade e tornando-se piada padrão. A concorrência nesse caso é desejável e muito bem-vinda.

Em tempos de engarrafamentos surreais e frotas de carros particulares que só crescem, serviços como o Zaznu estimulam motoristas a preencherem o espaço em seus carros com mais passageiros, reduzindo assim o total de carros nas ruas, além de gerar uma renda extra para o cidadão comum. No caso do Uber, o mercado de motoristas particulares que andava em queda vê no aplicativo uma grande opção para conectar-se com um público maior de maneira simples e prática, além de tornar o serviço de luxo mais acessível. Concorrência, afinal, é sempre bom para o mercado e para o consumidor.


Imagem via: CA Dept of Insurance