Cidadãos Invisíveis: crianças dão lição de cidadania e mapeiam favela na Índia
No episódio “Correio”, da série Cidade dos Homens, Laranjinha e Acerola são escolhidos para trabalhar como carteiros na favela onde vivem, já que o carteiro oficial não consegue dar conta do serviço por falta de conhecimento do local. As ruas e vielas da comunidade são impossíveis de serem navegadas por pessoas que não morem lá e não há um mapeamento oficial que ajude os serviços. Pensando nisso, os meninos tem a excelente e um tanto fantasiosa ideia de mapearem à mão a favela, dando nomes aos becos e largos, tal qual acontece no asfalto.
Um excelente roteiro, que de maneira hilariante mostra o quão negligenciadas são as favelas no Brasil e também no mundo. E como na ficção, é a criatividade das crianças que entra em cena para salvar o dia.
Em uma comunidade de Kolkata, Índia um grupo de crianças percebeu que não havia qualquer registro do lugar onde moravam nos mapas oficiais. Pesquisando no Google Maps descobriram que sua comunidade não passava de um polígono cinza na cidade, como se fossem invisíveis. O dilema lá era outro: a vacinação contra poliomielite que precisava percorrer o labirinto urbano.
Nasceu assim o grupo “The Daredevils” (Os destemidos), formado por crianças de 10 a 14 anos que percorreram toda a vizinhança, mapeando e numerando as casas e com isso conseguiram aumentar o percentual de vacinação em 80%. Porém, eles não pararam por aí. A história inspirou a Bay Area Video Coalition (que documentou o caso) a criar a plataforma “Map Your World“, auxiliando as comunidades não só a mapearem suas ruas, mas a coletar dados até então inexistentes. Utilizando smartphones cedidos pelo instituo as crianças recensearam a favela e coletaram dados completos sobre crianças vacinadas, coleta de lixo, etc.
O caso indiano não é exclusivo, basta uma busca no Google Maps por qualquer favela e vemos o mesmo resultado. As comunidades informais são quase sempre invisíveis para o poder público, mas fazem parte da cidade como qualquer outro distrito. Dar poder aos seus habitantes é torná-los parte do tecido urbano, uma verdadeira construção da cidadania. Mas seja na ficção ou realidade, a determinação das crianças não conhece limites.