O centro de São Paulo é uma região que sofre com a degradação e abandono das autoridades. Faz tempo que operações de “revitalização” (leia-se gentrificação) são iniciadas com nomes pomposos e pouca efetividade. Muita gente atribui o fenômeno da deterioração à construção do Minhocão, o viaduto de 3km de extensão que corta o centro, ligando-o à Zona Oeste da Cidade.
Mas mostrando que a solução dos problemas urbanos é responsabilidade também da população civil foi criado em 2012 o Festival Baixo Centro, um movimento civil e horizontal que por alguns dias a cada ano organiza uma agenda de atividades culturais nas regiões adjacentes ao famigerado viaduto no Centro de São Paulo.
De acordo com os princípios do movimento, o festival visa resignificar as ruas e o espaço público, engajando a comunidade para que ocupem e entendam o valor de sua participação para a melhoria da mobilidade, segurança e distribuição imobiliária. Tópicos importantes que tem sempre espaço na agenda do festival através de filmes exibidos na rua e apresentações artísticas.
Uma das características mais importantes do Baixo Centro é a não filiação à nenhuma entidade, dependendo quase que exclusivamente da colaboração da comunidade para acontecer. A verba é conseguida em campanhas de crowdfunding, a mão-de-obra voluntária é um dos componentes mais importantes, a agenda aceita sugestões de qualquer pessoa e não há limitações à participações de artistas, independentes ou já estabelecidos. O objetivo é juntar as pessoas em torno da ocupação pública.
Lendo a carta de princípios do festival, separei esse tópico que já foi bastante abordado aqui no site:
A rua não deve ser ocupada apenas se órgãos públicos subsidiarem os eventos. A comunidade civil, cultural e comercial deve se sentir responsável pelo que acontece nas ruas.
É isso que torna o Baixo Centro um exemplo a ser seguido, o entendimento que a conservação urbana não deve acontecer de cima pra baixo, como dita o pensamento característico no Brasil. A responsabilidade deve ser dividida, afinal quando o cidadão se acomoda abre espaço para má administração.
Com o (genial) lema “As ruas são para dançar”, o festival baixo centro assume um papel importante na educação da população paulistana. E enquanto a edição 2014 não vem (o festival ocorre nos meses de março-abril) o movimento organiza diversas atividades culturais independentes ao longo do ano.
É como dizia a canção: se eles lá não fazem nada, faremos todos aqui.
Foto via Festival Baixo Centro no Flickr.